Um lugar onde ninguém quer ir mas é, invariavelmente, para onde quase todos vão
- Aristides Barros
- 30 de abr.
- 3 min de leitura
Considerado solo sagrado por várias religiões o cemitério é um, senão o único, local mais respeitado pelos viventes
Texto e fotos: Aristides Barros

A metrópole dos mortos "guarda" os que já passaram pela vida
A reportagem foi onde é o destino derradeiro de quase todo ser humano para fazer o trabalho sobre a outra parte da vida: a morte. Quase nunca esperada, ela sempre que chega traz consigo dor, sofrimento e um amontoado de sensações tristes, o Cemitério de Bertioga já a “guarda” por longos anos.
Fundado em meados da década de 30, não se tem o número exato de quantos homens, mulheres, idosos, jovens e crianças já foram sepultados no local. Por isso, fica impossível saber o quanto foi chorado, sentido e lamentado pelos que ficaram, e depois também partiram, tomando o mesmo rumo.
A impossibilidade numérica é por conta da transferência dos restos mortais que são retirados dos túmulos e colocados nos ossuários. Essa remoção é necessária para que o sepulcro dê lugar a outro corpo: é a morte que segue.
Pela legislação atual, um corpo pode ficar sepultado por três anos, passado esse prazo é retirado e posto no ossuário, ou às vezes, levado pelos familiares para um lugar da escolha deles.
Os túmulos existentes são em sua maioria temporários e a cessão de túmulos perpétuos são garantidos apenas por meio de decreto municipal.

Um corredor silencioso se torna um caminho de reflexão sobre a vida
O Cemitério de Bertioga tem, hoje, 720 túmulos de chão e mais de mil túmulos erguidos gavetas, sendo que aproximadamente 260 deles ainda estão vazios. Os túmulos erguidos são popularmente chamados de gavetas. São construídos um sobre os outros, e a razão de existir tantos sem uso, porque foram construídas à época da pandemia.
Enquanto, o ex-presidente Jair Bolsonaro debochava do horror que assolava o país e a Covid matava diariamente centenas de brasileiros, várias cidades choravam e enterravam os seus mortos, Bertioga não foi exceção.
Mensalmente, o Cemitério de Bertioga faz 30 sepultamentos e durante a pandemia esse número subiu para 50 sepultamentos. Acompanhando a evolução dos óbitos e para não ser acusada da mesma omissão presidencial, a prefeitura tomou a medida preventiva se excedendo na construção das gavetas, o que felizmente naquele momento não foi preciso, mas futuramente, sem dúvida, serão utilizadas.
Trabalho dos que servem aos vivos e também aos mortos

Algumas estatuetas "vigiam" os sepulcros emanando um ar consolador
Ao todo, sete funcionários trabalham no local, o administrador que cuida de toda a parte burocrática, e mais seis ajudantes. A área do cemitério totaliza aproximadamente 10 mil metros quadrados. Apesar do contingente reduzido, é nítido que eles cumprem muito bem o que se propõem a fazer.
Todos os funcionários, do administrador aos ajudantes, são muito discretos nos movimentos e falas durante a realização dos ritos fúnebres. É visível e perceptível a forma respeitosa que eles dispensam aos que ali chegam, muitos já fustigados pelo sofrimento e a dor da perda estampadas no semblante.
O trabalho deles serve, em parte, para contornar um pouco dessa separação tempestiva: vida e morte, a última despedida. E tentam vencer esse verdadeiro desafio no serviço diário de manutenção do cemitério.
Desde a limpeza, pintura e reparos necessários deixam o local transmitir o clima de paz e harmonia que ele requer, e com isso manter a dignidade dos bertioguenses e das bertioguenses ali sepultados, pessoas que à sua forma contribuíram com suas vidas e histórias de vidas para a própria história da vida de Bertioga, que continua. É a vida que segue…
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