Famílias que vivem em Bertioga muito anos antes dela ser uma cidade são despejadas, não houve o menor respeito aos caiçaras
Por Aristides Barros
Moradores estão à espera de soluções
Ao menos cinco famílias, totalizando cerca de 13 pessoas - entre elas homens, mulheres, crianças e idosos, alguns deles com problemas de saúde em razão da idade avançada - lutam pelo direito a ter onde morar.
A luta é contra a Prefeitura de Bertioga e começou quando o Departamento de Estrada de Rodagem de São Paulo (DER) via reintegração de posse desabrigou as famílias que moravam (pasmem) embaixo de uma ponte na Rodovia Rio-Santos, que passa sobre o Rio Guaratuba.
O órgão estatal as tirou do local no dia 16 de setembro deste ano e a administração municipal bertioguense “dorme tranquila” sem dar nenhuma resposta sobre onde elas vão poder morar.
Diante da impotência das duas esferas de governo - estado e município - em oferecer o que tiraram delas: um local digno para viver, tão logo foram despejadas ocuparam uma área no Parque da Restinga de Bertioga (PERB).
Mas, estado e município uniram forças para nova investida contra as pessoas já afetadas com o despejo. Na manhã desta terça-feira (26) representantes da prefeitura e do Perb informaram que elas terão de sair da área ocupada.
Bertioguenses personificam a vida caiçara
Gente humilde que vive da pesca artesanal
As famílias despejadas são as chamadas populações ribeirinhas e se sustentam do que o Rio Guaratuba “lhes dá”: da pesca e dos caranguejos que “catam” no manguezal.
A vida caiçara em sua forma e concepções mais puras foi abalada pela estrutura de poderosas instituições governamentais, mas as famílias não estão sós nessa batalha, elas estão sendo apoiadas pela Colônia de Pescadores Z-23 e o Instituto Maramar.
As duas entidades acompanham o caso e orientam os moradores sobre como agir para não terem maiores prejuízos como os já sem “patrocinados” pela prefeitura e DER.
“São pescadores artesanais que há anos vivem ali e agora que foram obrigados a sair acredito que seja responsabilidade da prefeitura providenciar moradias a essas pessoas, por meio de processo de regularização fundiária”, afirma Fabrício Gandini, do Instituto Maramar.
Colônia participa da luta
Os moradores são favoráveis a ideia, mas antecipam que querem permanecer morando próximo às margens do Rio Guaratuba, provando uma relação quase umbilical com a natureza que ninguém pode separar.
“Somos solidários com os pescadores e com suas famílias e ajudaremos no que for possível para que seja dada uma solução favorável a eles”, falou Kally Molinero, que preside a Colônia de Pescadores.
Edvaldo Soares, presidente da Confederação Nacional dos Pescadores e Agricultores (CNPA) se junta à causa dos moradores da Ponte do Rio Guaratuba
Engrossando o apoio da confederação, colônia e instituto, também deve entrar a Defensoria Pública do Estado de São Paulo (DPE-SP), que já foi oficiada sobre o que acontece do lado de cima da Ponte do Rio Guaratuba.
PERSONAGEM
O septuagenário José Paixão dos Santos, 76 anos, o popular Nego Dé - conhecido em toda a Bertioga - é um dos primeiros moradores do local e com ele pode ser contado mais de 40 anos da história de habitação da ponte, que começou a ser ocupada pouco depois daquele acesso da Rodovia Rio-Santos ser construído.
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